MEMÓRIA
A Festa de São João de Sobrado é uma festa antiga e secular, com origens ancestrais e remotas. No entanto, são conhecidas algumas referências escritas e documentais que permitem identificar que a ocorrência da festa verifica-se, pelo menos, desde o séc. XIX. Assim, através de uma cronologia resumida, pode-se compreender melhor a festa:
Linha do Tempo
1904
1904
Inícios do séc. XX
1904- O Padre Joaquim Lopes dos Reis, na sua obra “Villa de Vallongo” menciona a Bugiada e Mouriscada referindo que esta festa se realiza todos os anos. 1910- Num cartaz do Theatro Oliveira Zina fez-se referência à festa na divulgação das atividades de Carnaval. Em jeito de rima e modo brincalhão, é referido: “virá (...) a ‘Mouriscada de Sobrado’ que com todo o agrado, fará exibição das Danças de S. João, que deixarão embasbacados os homens encasacados que assistirão á funcção”. 1913- O jornal “O Vallonguense” publica uma notícia sobre a festa. Deste mesmo ano existe, ainda, uma fotografia que retrata o “jintar” dos Mourisqueiros, tendo sido Reimoeiro Alberto Martins Fernandes. Trata-se de importantes registos, mostrando que a festa se realizou mesmo durante a 1ª República e a Lei da Separação da Igreja do Estado. 1915- “O Comércio do Porto” aborda a festa de São João, referindo as danças dos “bujios e mourisqueiros”, indicando ainda os inúmeros desacatos ocorridos no final do dia. Anos 20- Alberto de Oliveira Freitas Guimarães, 2º Visconde de Oliveira do Paço, é autor de fotografias sobre a Sobrado e uma sobre a Mouriscada.1932
Anos 30 e 40
Anos 30- J.R. Santos Júnior visita Sobrado no dia de São João gravando as primeiras imagens em vídeo sobre a festa 1932- Rodney Gallop e Violet Alford assistem à festa de São João de Sobrado, sendo os primeiros antropólogos e investigadores a escreverem sobre a festa. Ambos escreveram artigos e livros nos anos seguintes e que permitiram conhecer melhor a festa, em especial as fotografias que acompanharam essas publicações. Violet Alford é a primeira mulher investigadora a escrever sobre a festa. 1938- O etnógrafo Luís Chaves escreve o seu primeiro artigo onde menciona a Bugiada e Mouriscada na revista Lusitana, seguindo-se nos anos seguintes novas publicações e novas referências. 1937-1940- Armando Leça visita e fotografa a festa em vários momentos, constituindo estes registos, uma verdadeira preciosidade sobre a nossa tradição. 1942- A Festa de São João de Sobrado realizou-se, neste ano, no dia 25 de junho, uma vez que no dia 24 se celebrou o Corpo de Deus. 1948- Lucile Armstrong publica “Dances of Portugal” onde aborda a Bugiada e Mouriscada 1949- Neste ano, segundo o Jornal de Noticias, quem acompanha os Bugios e Mourisqueiros é a Banda dos Bombeiros Voluntários de Cete, liderados pelo maestro Emídio Nogueira.1950
Anos 50 e 60
1950- Adelino Teixeira Ferreira, a 29 de maio, copia a partitura original do Hino de São João de Sobrado que se designa Recordação de S. João e é uma marcha provavelmente da autoria de Joaquim da Costa ou de um músico inglês. Esta partitura é uma das relíquias da festa e pertence à Banda Musical de São Martinho do Campo que nesta década adquire algum destaque na Festa, afirmando-se nos anos seguintes como a Banda Musical da Bugiada e Mouriscada. Anos 50- Franklim Dias é a primeira criança-bugio a limpar as bagadas do velho, iniciando-se esta tradição que ainda perdura, tendo nos últimos anos duas ou três crianças as protagonistas deste momento na Prisão do Velho. Anos 60- Joaquim Rodrigues dos Santos Júnior, professor e investigador, visita frequentemente a festa de São João de Sobrado, a convite de José Ferreira Marujo, tendo registado anotações e fotografias nos anos de 1964, 1965, 1967 e 1968. A sua relação com a festa estende-se desde os anos 30 e prolonga-se por todo o séc. XX. José Ferreira Marujo alicerça-se nos conhecimentos do Professor Santos Júnior e narra a festa durante anos a fio, denotando-se uma profunda amizade, respeito e admiração entre ambos. O Sr. Marujo deslocou-se à Universidade do Porto com personagens trajados a rigor para mostrar aos alunos de Santos Júnior a beleza e magnitude da festa. Ambos foram os grandes responsáveis pela promoção e crescimento da festa no séc. XX. 1963- António Martins da Costa Rangel escreve sobre a festa, abordando as duas bandas musicais com exclusividade sobre os direitos da partitura do Hino de São João (Banda de Baltar e a Banda de S. Martinho), fazendo ainda uma associação (provavelmente a primeira conhecida) entre a festa da Bugiada e Mouriscada e as Lutas Liberais. 1964/65- Teresa de Jesus Moura André faz um trabalho de antropologia sobre a festa para o professor J.R. Santos Júnior, tendo-se deslocado a Sobrado, tendo sido a primeira investigadora portuguesa a debruçar-se sobre a festa. O seu trabalho é brilhante e permite conhecer a festa neste período com valiosíssimas informações sobre a tradição, lenda, personagens e danças. As fotografias incluídas também são extremamente interessantes. 1966- Joaquim Azinhal Abelho escreve um artigo sobre a festa.1971
Anos 70
Anos 70- Michel Giacometti, etnólogo de origem francesa, numa das suas recolhas etno-musicais, visita a festa da Bugiada e Mouriscada, tirando fotografias sobre a tradição, em especial sobre os músicos da Bugiada. 1971- Benjamim Enes Pereira, antropólogo e etnólogo de Viana do Castelo, publica “Máscaras Portuguesas”, abordando a festa. Foi um dos grandes investigadores portugueses que se interessou por conhecer e investigar a festa, promovendo-a por todo o país e no estrangeiro. 1973- A RTP, no Noticiário Nacional, grava belíssimas imagens sobre a festa. 1974- O primeiro pós-ditadura foi bastante chuvoso, tendo havido pouca assistência na festa que se realizou de igual forma. A partir deste ano as mulheres gradualmente foram conquistando o seu lugar, tendo sido integradas e aceites na Bugiada. 1977- Ângelo Peres grava o documentário “Bugiadas” com a Cooperativa Moviola que é um dos marcos videográficos da festa, pela qualidade das imagens e das entrevistas. O autor ofereceu o filme à Associação Casa do Bugio em 2006. 1978- A Comissão de Festas de São João de Sobrado 1978, liderada por José Bessa publica uma brochura sobre a festa com o título “São João de Sobrado: Os Bugios”. Foi editada pela gráfica do Correio do Douro com a colaboração e provável autoria de Fernando Queirós e José Ferreira Marujo.1982
Anos 80
Anos 80- Jean Marie Steinlein visita e fotografa a festa, em anos distintos, registando brilhantemente a festa, os seus personagens e Sobrado. Neste período, é executada uma nova imagem de S. João no Studio Nossa Senhora de Fátima (Trofa). Esta nova imagem, colocada numa peanha na Igreja Matriz, passa a integrar a procissão de S. João, substituindo a antiga e pequena escultura. Fez-se ainda uma nova bandeira de S. João para acompanhar o andor. 1982- Benjamim Enes Pereira publica na revista da Societé D´Arqueologie et des Amis du Musee de Biche na Bélgica um excelente artigo, em língua francesa, sobre a festa. Neste ano, o mesmo Benjamim Enes Pereira e Veiga de Oliveira ofereceram dois trajes de Bugio e dois trajes de Mourisqueiro ao Museu de Binche, onde ainda se encontram. Em dezembro de 1982, foi efetuada uma representação da Bugiada no FITEI- Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica no Porto, tendo havido o acompanhamento da Banda Musical de S. Martinho do Campo. 1983- A Associação para a Defesa do Património Natural e Cultural do Concelho de Valongo publica o livro “Bugios e Mourisqueiros: A Festa de S. João de Sobrado (Valongo)” da autoria de Manuel Pinto. 1986- Hélder Pacheco publica uma monografia dedicada ao Grande Porto, abordando vários concelhos, incluindo Valongo. Referiu-se à festa de S. João e a Sobrado de uma forma brilhante, concisa mas que revelou o seu encanto pela festa.1990
Anos 90
1990- Brandão Lucas produz um documentário sobre a festa, inserido numa serie documental sobre tradições populares portuguesas, intitulada Viagem ao Maravilhoso. É um dos melhores documentos audiovisuais sobre a festa. 1992- A RTP, grava imagens sobre a festa, transmitindo-a no telejornal. 1993- Constituição da Associação Organizadora da Casa do Bugio e das Festas de São João de Sobrado a 21 de dezembro, tendo como sócios fundadores José Fernandes da Silva, António Moreira Pedro, Fernando Ferreira de Sousa, António da Costa Dias, e Manuel Joaquim Ferreira Pinto. 1996- Realizou-se, a 6 de julho, da primeira assembleia geral da Associação Organizadora da Casa do Bugio e das Festas de São João de Sobrado, tendo a primeira direção tomado posse. A Comissão de Festas publica um livro sobre a festa, da autoria de Manuel J.F. Pinto.2000
Anos 2000
2000- Manuel Pinto escreve um artigo para o IV LUSOCOM – Encontro Lusófono de Ciências da Comunicação em São Vicente, Brasil, intitulado “A Bugiada: festa, luta e comunicação”. Trata-se de um importante estudo sobre a festa que em muito inspirou os investigadores e antropólogos nos anos seguintes, permitindo conhecer um pouco mais sobre a lenda, rituais e momentos da festa. 2001- No dia 24 de junho, ocorre o primeiro “jintar” ou jantar da Bugiada e Mouriscada no edifício Casa do Bugio que ainda não estava concluído, mas já reunia as condições necessárias para acolher tão importante momento. Era o início da longa e apaixonante história entre a festa e o edifício. 2002- Foi editado, pela ELO, o livro “Bugiada Valongo” com textos de Paula Costa Machado e fotografias de Hélder Ferreira. É uma das grandes obras sobre a festa, descrevendo-a na sua totalidade. 2004- Maria Cristina da Cunha Araújo publica tese de mestrado com o título “Bugios e Mourisqueiros: O outro lado do espelho”. Foi realizada durante dois anos, tendo entrevistado grandes figuras da festa como José Ferreira Mraujo, Adelino Dias, entre outros. Na apresentação da tese contou com a presença de Benjamim Enes Pereira. 2004-2015- Por cerca de 11 anos, Manuel Pinto, sócio-honorário da Associação Casa do Bugio foi autor de artigos no Blog Bugios e Mourisqueiros informando a população sobre os acontecimentos da associação, investigações sobre a festa, partilhando ainda fotografias e documentos. As suas informações são relevantes e preciosas para interpretar e conhecer melhor a nossa tradição. 2008- Inserida nas comemorações da festa, a 21 de junho, foi inaugurada a estátua-monumento em homenagem ao Bugio e ao Mourisqueiro na rotunda do Largo do Passal. Esta obra de arte, da autoria de Agostinho Rocha, pesa cerca de 850 quilos e foi executada por iniciativa da Câmara Municipal de Valongo. Neste mesmo ano, Aurélio Lopes publica um pequeno mas bastante interessante livro sobre a festa, intitulado “A Festa dos Bugios de Sobrado”. 2010- António Soares, proprietário da empresa Móveis Soares e Filhos, na qualidade de fiel depositário da Serpe em nome da comunidade, procede à doação da mesma à Associação Casa do Bugio que passa a ficar guardada no edifício-sede. Barbara Alge publica o livro “Die Performance des Mouro in Nordportugal” que é um estudo abrangente assente nas festas da Bugiada e Mouriscada, Festa dos Caretos em Torre de Dona Chama e Auto de Floripes em Neves. Assenta no seu trabalho de campo realizado tendo estado em Sobrado em 2004, 2005 e 2007, reunindo fotografias, informações e importantes entrevistas com habitantes locais, pessoas ligadas à Bugiada e Mouriscada, Manuel Pinto, José Marujo e Benjamim Enes Pereira.2011
Anos 2010
2011- A direção da Associação Casa do Bugio decide iniciar esforços para candidatar a festa a Património Imaterial da Unesco. 2012- A Festa de São João de Sobrado foi organizada por uma comissão de festas constituída apenas por elementos femininos. Foi um marco na festa uma vez que nunca havia acontecido anteriormente tendo ainda apoiado a publicação de um livro sobre a festa da autoria de Francisco Costa. Esta mesma comissão, em parte, formou um grupo de trabalho que angariou os fundos necessários para a aquisição e colocação da estátua de São João Precursor, colocada no adro da Igreja Matriz em 2014, da autoria de Bruno Marques. No mesmo ano a Bugiada e Mouriscada foi reconhecida como património cultural imaterial de interesse municipal e 2013- O Festival do Norte foi uma das grandes oportunidades para a promoção e divulgação da festa. Foram apresentados o livro A Volta (de Eduardo Brita e David Mira) e o documentário de David Mira que serviram, juntamente com uma conferência organizada no Largo do Passal, como bases para a candidatura da Bugiada e Mouriscada a Património Imaterial da Unesco. Neste momento de entusiasmo é criado, de forma voluntária, o blog saojoaosobrado.wordpress.com, da autoria de Nuno King, que até à atualidade vai servindo de plataforma de divulgação digital da festa, seja como arquivo das comissões de festas e associação, seja na partilha de documentos, informações e fotografias da festa. 2014- A Câmara Municipal de Valongo inaugurou, no dia 19 de junho, o Centro de Documentação da Bugiada e Mouriscada. Este espaço documental e museológico foi inicialmente coordenado por Paulo Lima, coordenador da Candidatura da Bugiada e Mouriscada a património imaterial da Unesco. Entretanto o processo foi alterado, tendo Paulo Lima abandonado o processo e este espaço. Paulo Moreira passou a coordenador este espaço documental e museológico. 2015- Após a saída de Paulo Lima da coordenação da candidatura da festa à Unesco, foi estabelecido um protocolo de cooperação interinstitucional, entre o Município de Valongo, a Associação Casa do Bugio, a Junta de Freguesia de Campo e Sobrado e o Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade, da Universidade do Minho, com o intuito da inscrição da Bugiada e Mouriscada no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial. 2016- Realizou-se a 21 de maio, a I Gala de homenagem aos Bugios e Mourisqueiros, organizada pela Comissão de Festas de 2016. Neste mesmo ano, em jeito de comemoração dos 345 anos da Igreja de Sobrado, Nuno King publica a sua primeira obra intitulada “Igreja Matriz de Sobrado: O Segredo da Memória” onde aborda a história e património de Sobrado, nomeadamente a Bugiada e Mouriscada e a iconografia Sanjoanina de Sobrado. Posteriormente lançou uma brochura dedicada à iconografia de São João em Sobrado. 2017- Inserido no processo de inscrição da festa no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial, Martin Dale produziu um vídeo promocional sobre a festa. Neste mesmo ano é publicado pela Progestur, o livro Rituais com Máscara dedicado à Bugiada e Mouriscada, com textos da autoria de Maria João Nunes. 2018/ 2022- O Festiviy, projeto do CECS- Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade da Universidade do Minho, investigou a Bugiada e Mouriscada, tendo originado na publicação de inúmeros artigos sobre a festa, divulgação e um documentário de Silvana Torricella. Fizeram parte da equipa Rita Ribeiro, Manuel Pinto, Emília Rodrigues Araújo, Luís Santos, Luís Cunha, Moisés de Lemos Martins, Albertino Gonçalves, Carmo Daun e Lorena, Alberto Fernandes e Márcia Silva. 2018- A 2 de junho, realizou-se a II Gala Bugios e Mourisqueiros- Memórias e Paixões, organizada por antigos Velhos e Reimoeiros em colaboração com a direção da Associação Casa do Bugio e alguns apaixonados da festa. 2019- A 8 de junho, realizou-se a III Gala Bugios e Mourisqueiros- Memórias e Paixões, organizada por antigos Velhos e Reimoeiros em colaboração com a direção da Associação Casa do Bugio e alguns apaixonados da festa. A 20 de junho deste ano, na Residência Paroquial, foi encenado o “Auto da Bugiada e Mouriscada”, dirigido por Jacinta Quelhas e que permitiu interpretar a génese e origens da lenda da Bugiada e Mouriscada, numa encenação muito bem conseguida e intrigante, tendo-se criado uma nova perspetiva criativa sobre a festa2020
Anos 2020
2020- A Câmara Municipal de Valongo, com o apoio e parceria da Associação Casa do Bugio e da Junta de Freguesia de Campo e Sobrado, procedeu à candidatura da festa às 7 Maravilhas de Portugal da Cultura Popular. Não foi eleita como maravilha, mas esta candidatura contribuiu para a divulgação nacional da festa. 2020/ 2021- Tendo o mundo sido assolado com uma pandemia, o Covid-19, por dois anos, a Bugiada e Mouriscada não se realizou. Existiram vários apontamentos sobre a festa, como a celebração da missa em honra de São João, colocaram-se fardas às janelas, a Banda de Música promoveu o Hino de São João, entre muitos outros momentos. Provou-se que, na impossibilidade da sua realização por questões de saúde pública e segurança, esta manteve-se viva. 2022- A Bugiada e Mouriscada, volta a sair à rua, depois de dois anos de confinamento devido à pandemia do Covid-19. A Associação Organizadora da Casa do Bugio e das Festas de São João de Sobrado alterou os seus estatutos e a sua designação, passando a designar-se Associação São João de Sobrado. O edifício-sede da associação passou a designar-se formalmente “Casa do Bugio e do Mourisqueiro” e procedeu-se a inúmeras alterações estruturais na associação, na festa e no edifício. Paulo Figueiredo, neste mesmo ano, publicou um livro infantil sobre a lenda da Bugiada e Mouriscada. 2023- A 8 de junho, realizou-se a III Gala Bugios e Mourisqueiros- Memórias e Paixões, organizada por antigos Velhos e Reimoeiros em colaboração com a direção da Associação Casa do Bugio e alguns apaixonados da festa. A 2 de dezembro decorreu a celebração dos 30 anos da constituição da Associação São João de Sobrado. O futuro continuará a ser escrito…Saiba mais
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