LENDA
A Bugiada e Mouriscada é uma lenda antiga, transmitida de geração em geração, que assume a forma de auto, no dia 24 de junho. Conta-nos o seguinte:
Dois povos
“Conta-se que habitavam, antigamente, na região do Rio Ferreira, dois povos: os Mouros que ocupavam a Serra de Cuca Macuca (atual Serra de Santa Justa) e os Cristãos que viviam no vale do rio.
Os Mouros ou Mourisqueiros (como são conhecidos) dedicavam-se à extração de ouro na serra e eram liderados pelo Reimoeiro. Já os Cristãos ou Bugios (como são conhecidos) dedicavam-se aos trabalhos agrícolas e eram liderados pelo Velho da Bugiada.
A cura da princesa mourisca
Certo dia, a filha do Reimoeiro, adoeceu gravemente e não existia nenhuma cura para a sua enfermidade. O seu pai, recorreu a todos os sábios e curandeiros em busca de uma solução, mas sem sucesso. Sentindo-se impotente por nada conseguir fazer, ficou impaciente. Então, ouviu falar que os Bugios, povo vizinho que vivia em Sobrado, venerava uma imagem de São João Batista e que esta era famosa pelos seus milagres, inclusive pela salvação de uma enfermidade que a própria filha do Velho da Bugiada havia sofrido. Em desespero de causa, pediu aos Bugios o empréstimo da imagem para interceder pela cura de sua filha. Os Bugios, solidários com o Reimoeiro, emprestaram a imagem e São João operou mais um milagre. A menina estava curada, para felicidade de seu pai.
Em gesto de agradecimento pela graça recebida, o Reimoeiro organiza um festim, mas recusa-se a devolver a imagem aos Bugios. Mas a ingratidão do Reimoeiro vai mais longe, no banquete por ele oferecido, em jeito de afronta oferece os restos do repasto aos Bugios, estes ripostam de igual forma. O ”caldo” estava entornado.
A prisão do Velho da Bugiada
Os Bugios reclamam a imagem como sua, os Mouros recusam-se a dá-la. Estala a guerra. São trocadas mensagens entre as duas tribos a fim de se fazer a paz. Nada feito. Os senhores doutores da lei (advogados), também intervêm e debatem as leis entre eles. Não chegando a acordo, troca-se tiros entre os dois palanques (castelos) e o ambiente fervilha.
Acabando-se a pólvora aos Bugios, o Reimoeiro reúne o seu exército, marcha em direção ao palanque oposto (o dos Bugios) e toma-o de assalto, aprisionando o Velho.
O milagre da serpe
Reina o desânimo e a injustiça… os Bugios, solidários, emprestaram a imagem aos Mourisqueiros e viram-se, sem justificação, envolvidos numa guerra. As consequências da derrota dos Bugios foram a perda do “Santo” e do seu líder. O Velho da Bugiada estava preso e só a intervenção divina podia salvar os Bugios e o seu chefe da ruína. É nesse momento que os Bugios imploram a ajuda de São João, o seu santo protetor, que mais uma vez não os deixa desamparados. Eis que os Bugios se recordam do medo dos Mouros por figuras monstruosas, decidindo criar uma serpe para os assustar.
Os Bugios investiram com a serpe contra os Mourisqueiros. Estes, amedrontados, fogem, largando o Velho da Bugiada. No final, restitui-se a ordem inicial.”
Fonte: Fábia Pinto (2007) in https://estoriasdaminhaterra.blogs.sapo.pt/11356.html