BUGIADA E MOURISCADA
“UM DOS MAIS NOTÁVEIS RITUAIS QUE SOBREVIVEM NA EUROPA MODERNA”
(Rodney Gallop, 1936)
VIDEO
Programa
07h45 – Dança em casa do Reimoeiro;
Os Mourisqueiros concentram-se junto da Casa do Reimoeiro. O Reimoeiro apresenta-se perante a sua formação, sendo saudado pelos Mourisqueiros. Segue-se uma dança ao som da Caixa dos Mourisqueiros, sendo a primeira dança do dia, à semelhança e no mesmo horário que a dança em casa do Velho da Bugiada. Finda a dança, segue-se um “mata-bicho” (lanche) oferecido pelo Reimoeiro. No fim, o Reimoeiro e os Mourisqueiros dirigem-se para a Casa do Bugio e do Mourisqueiro para o seu “jintar”.
07h45 – Dança em casa do Velho da Bugiada;
Os Bugios concentram-se junto da Casa do Velho da Bugiada. O Velho apresenta-se perante a sua formação, sendo saudado pelos Bugios. Segue-se uma dança ao som das melodias do grupo de tocadores da Bugiada com os seus violinos e violas braguesas, sendo a primeira dança do dia. Finda a dança, segue-se um “mata-bicho” (lanche) oferecido pelo Velho. No fim, o Velho da Bugiada e os Bugios dirigem-se para a Casa do Bugio e do Mourisqueiro para o seu “jintar”.
08h40: “Jantar” dos Mourisqueiros;
Quando chegam à Casa do Bugio e do Mourisqueiro, os Mourisqueiros executam uma dança, entrando de seguida no edifício.
São os primeiros a “jantar”, seguindo-se os Bugios. Quando estes chegam as portas do salão são encerradas para que não exista nenhum contacto entre ambas as formações. Quando os Bugios entram no edifício, o Reimoeiro envia os seus “Guias” ao encontro, oferecendo-lhes uma oferta restos do repasto, ossos e cornos de animais, entre outros. Os Bugios respondem de igual forma e sente-se a tensão bélica no ar.
No fim do banquete, os Mourisqueiros levantam-se, executam outra dança diante da Casa do Bugio e do Mourisqueiro e por fim dirigem-se para Campelo.
09h00: Entrada da Banda Musical de São Martinho de Campo;
Os músicos integrantes da Banda Musical de S. Martinho do Campo aglomeram-se junto do cruzeiro do Passal. De seguida, antes do término da missa matinal (que principia às 8h00 e termina uma hora depois) apresentam-se perante a comunidade tocando uma “arruada de entrada” no Largo do Passal e ao redor da Igreja Matriz, em formação própria de género militar.
Posteriormente deslocam-se para a Casa do Juiz da festa ou num local previamente definido para irem “buscar o juiz”. Caso o ponto de encontro seja em Casa do Juiz este oferece um “mata-bicho” aos músicos e também aos mordomos da Comissão.
O juiz e os mordomos, liderados pelas melodias da Banda de Música, dirigem-se para a Igreja Matriz onde participarão na Missa Solene.
09h15 – ‘Jantar’ dos Bugios;
Quando chegam à Casa do Bugio e do Mourisqueiro, os Bugios executam uma dança, entrando de seguida no edifício. Antes de iniciarem o banquete e já sem máscaras, os Bugios escutam as indicações e diretrizes que o Velho da Bugiada dirige a todos. De seguida, sentam-se e começam a comer, é o momento do seu jantar, também designado de “Jintar”. Após receber os “Guias” ou emissários dos Mourisqueiros, o Velho da Bugiada retribui a afronta e envia os seus “Guias” com oferendas que se assemelham às recebidas: restos do repasto, cornos, ossos, vegetação podre, entre outros.
Durante o banquete, as entrajadas entram no edifício e dão o seu espetáculo, interagindo com os Bugios e com o público. No fim do banquete, os Bugios levantam-se, executam outra dança diante da Casa do Bugio e do Mourisqueiro e por fim dirigem-se para Campelo.
10h00 – Missa Solene em honra de São João de Sobrado;
A Missa Solene em honra de São João decorre com toda a pompa e solenidade na Igreja Matriz de Sobrado. No início ou durante a celebração é lida a lista de mordomos e o nome do juiz da Comissão de Festas que assumirá a organização no ano seguinte.
Integram a celebração os representantes autárquicos, a Comissão de Festas que organiza a festa, alguns convidados, o bispo ou presidente da celebração convidado pelo pároco bem como os fiéis-devotos.
Durante a celebração, os Mourisqueiros executam uma dança junto das alminhas do Caminho Novo, descansando um pouco na “Casa dos Escola”. O Reimoeiro e Guias dirigem-se para a Igreja Matriz pelos “Terrenos do Passal”, que se localizam atrás do Restaurante Engenho.
Durante a entoação do cântico “Santo”, o Reimoeiro e os “Guias” adentram-se na Igreja para “Roubar o Santo”, consoante a Lenda da Bugiada e Mouriscada.
11h30 – Procissão em Honra de São João de Sobrado;
Depois da Missa Solene e da entrada rompante do Reimoeiro e “Guias” na celebração, procede-se à procissão em honra de S. João de Sobrado e que em parte recria o momento do “Roubo do Santo” pelos Mourisqueiros.
A procissão inicia-se na Igreja Matriz, segue em direção à Ermida das Alminhas do Caminho Novo, rodeando-a, prosseguindo até à rotunda do Passal, passando no cruzeiro do Passal e terminando na Igreja Matriz após uma volta à mesma.
Integram a procissão os andores de S. João de Sobrado, Santo André e Nossa Senhora, sendo carregados pelos Mourisqueiros., para além das bandeiras dos respetivos santos, cruz e lanternas, pálio com o presidente da celebração a carregar o santíssimo, Banda Musical de S. Martinho do Campo, autoridades locais, membros da comissão, bombeiros, entre outros.
12h45 – Dança de Entrada
É uma dança de apresentação dos Moourisqueiros e dos Bugios, em jeito militar, ao público. Apresenta-se sempre em primeiro lugar a formação Mourisca e de seguida a formação dos Bugios, sendo ambas acompanhadas pela Banda Musical de S. Martinho, que toca o “hino de S. João”, na parte do trajeto das Alminhas até ao Largo do Passal. Aí, quando termina a música da Banda, começam as danças acompanhadas pelo “caixa” (Mourisqueiros) e pelos tocadores da Bugiada.
No final de cada Dança de Entrada, junto ao adro da igreja, é feita a aspersão de água benta com ramos de oliveira aos Mourisqueiros e aos Bugios, pelos seus líderes, que utilizam a caldeirinha da Igreja.
13h30 - Entrajadas;
Os grupos das críticas sociais, também designados de Entrajadas ou Estardalhadas, após terem interagido e estado presentes na Casa do Bugio e do Mourisqueiro, deslocam-se para a Rua do Caminho Novo, aguardando neste local pelo fim da Dança de Entrada dos Mourisqueiros e Bugios. Desfilam de seguida, no encalço da Bugiada, interagindo com o público.
A sua participação é voluntária e cómica, estando as suas “críticas” relacionadas com acontecimentos relevantes da vida quotidiana local, politica e até sobre assuntos da Bugiada e Mouriscada.
13h45 – Dança do Sobreiro;
A Dança do Sobreiro, assim designada por ser realizada junto a um sobreiro, decorre após a Bênção dos Mourisqueiros e dos Bugios. Primeiro os mouros e depois os cristãos. Com o fim da dança ocorre uma interrupção nas danças dos Bugios e Mourisqueiros, retomando à tarde.
15h00 – Cobrança dos direitos
No início da tarde, o primeiro ritual recreado é a Cobrança dos Direitos, numa alegoria à antiga cobrança de impostos. Com um grupo de Bugios a abrir caminho no meio da multidão, um Bugio percorre o Passal, montado num burro mas ao contrário. Leva na sua mão um livro grosso dos direitos a cobrar, escrevendo nele com um pau a fazer de pena, usando como tinteiro o rabo do animal.
O trajeto inicia-se na Casa do Marto (na Rua José Araújo), prolongando-se até ao Largo do Passal. Neste trajeto, vai cobrando, nas várias tendas e barraquinhas da festa, os direitos por meio de géneros (normalmente bebidas) e passando o respetivo recibo.
15h15 - Semear
A Sementeira ou Semear é a cena seguinte à Cobrança dos Direitos. Nesta encenação, o semeador (mascarado e com vestes toscas) lança as sementes ao ar e na praça durante o seu percurso (que se inicia na Casa do Marto e se prolonga até ao Largo do Passal).
Tal como o Cobrador, executa a sua função montado ao contrário num animal (que pode ser o mesmo ou outro), espalhando cinza ou serrim de madeira (outrora era baganha de linho, numa imitação do milho). É também coadjuvado na sua labuta por Bugios que encaminham o animal.
No fim do percurso, o seu saco de serapilheira fica vazio, sinalizando o fim do seu trabalho.
15h30 – Gradar
Gradar a terra, que normalmente ocorre depois que se lavra a terra, no São João é retratado a seguir à sementeira, portanto ao contrário.
O Homem da Grade ou Gradador é o agricultor que com uma grade tosca de madeira, grada a terra, percorrendo o mesmo trajeto do Semeador. Usa vestes, previamente encharcadas na lama, igualmente rústicas que incluem máscara e chapéu.
A grade encontra-se atrelada ao animal e durante o trajeto, por vezes, esta desorienta-se e o Gradador tem de a puxar. Tal como os demais personagens dos Serviços da Tarde, interage com o público roçando as suas roupas encharcadas nas pessoas. No fim da sua labuta, a grade encontra-se completamente destruída, restando alguns paus desengonçados atrelados às correias puxadas pelo burro.
15h45 - Lavrar
A Lavra da Praça é a última encenação dos rituais agrícolas recreados. O Homem do Arado ou Lavrador segue o mesmo trajeto das figuras anteriores, possuindo máscara e chapéu, usando vestes agrárias típicas de antigamente e enlameadas. O seu instrumento de trabalho um arado que é representado por um pau alongado com dois galhos a que o lavrador agarra, com uma roda e uma aiveca, sendo puxado por um burro.
Os Bugios ajudam o lavrador conduzindo o animal e ambos vão interagindo e encostando-se ao público.
17h00 – Dança do Cego ou Sapateirada
A Sapateirada ou Dança do Cego é um outro ritual cómico encenado após a Lavra da Praça.
Nesta farsa, cómica e um pouco grotesca, integram cinco personagens: Cego, Moço do Cego (Bugio), Sapateiro, Moço do Sapateiro (Bugio) e a Fiadeira ou mulher do Sapateiro.
O Cego é uma figura itinerante, de fora, que chega à povoação. O sapateiro é um trabalhador local que tem a Fiadeira como mulher. No meio da confusão gerada, o moço do cego rouba a mulher ao Sapateiro e foge com ela.
A normalidade só é restabelecida quando o sapateiro, reencontra e perdoa a mulher, após ter vencido o Cego através da luta do pau, achando que era ele o culpado, mas na verdade era o Moço do Cego. Tudo volta à situação inicial e nesta representação, que tem muita participação do próprio público e onde existe bastante imundice, são lançados sapatos, água, lama e excrementos por todo o lado.
17h15 – Dança do Doce
A Dança do Doce ocorre antes da Prisão do Velho no quinteiro da Residência Paroquial, sendo uma dança que simbolicamente associa a paróquia e o pároco às festividades, uma vez que nos primórdios da festa o abade era a autoridade política e religiosa local.
Os Mourisqueiros executam a dança em primeiro, seguindo-se os Bugios. No fim de cada dança, o pároco distribui doces e vinho por ambas as formações. Posteriormente e à sua vez, ambas as formações seguem para os respetivos palanques, onde se iniciará o confronto.
18h30 – Prisão do Velho
A Prisão do Velho é o momento alto e o mais emocionante da Bugiada e Mouriscada e é quando ambas as formações se cruzam e iniciam um conflito bélico no Largo do Passal.
Inicialmente os Mourisqueiros abrem fogo do seu palanque sendo respondidos pelos Bugios. O mensageiro a cavalo troca mensagens para tentativa de entendimento mas sem sucesso. Quando termina a pólvora no palanque dos Bugios, os Mourisqueiros deixam o seu castelo e ao fim de três tentativas conseguem invadir o castelo dos Bugios.
Interagem os doutores da lei para que se tente encontrar entendimento e paz. Entram em cena crianças-bugio para pedir misericórdia e limpar as “bagadas” (lágrimas) ao Velho da Bugiada mas este está preso pelo Reimoeiro.
O líder dos Mourisqueiros obriga o Velho, sem o largar, a sair do seu palanque. A emoção atinge o clímax. Em desespero de causa, os Bugios pedem a interseção de S. João.
19h50 - Largada da Serpe
Após a tomada do palanque dos Bugios e do aprisionamento do Velho da Bugiada, este já cativo é conduzido pelo Reimoeiro e Mourisqueiros, dispostos em círculo, para o palanque dos Mourisco. No entanto, antes de lá chegarem e após interceção ao S. João, os Bugios, inspirados pelo santo, criam uma serpe (um monstro) que carregando-a em correria frenética contra os Mourisqueiros, assusta-os. Estes afastam-se, perdendo uma das bandeiras do palanque dos Bugios e largam o Velho da Bugiada que corre na dianteira da Serpe, libertando-se assim do julgo mourisco. Seguem-lhe centenas de Bugios.
A Banda Musical de S. Martinho do Campo que executava a “música da paixão”, no momento da captura do Velho, toca a “música da glória”, no momento da sua libertação.
20h00 - Dança do Santo
Terminada a Prisão do Velho e restabelecida a ordem inicial, chega-se a uma situação de igualdade para Bugios e Mourisqueiros, não havendo vitoriosos ou vencidos, nem havendo nenhuma conversão como acontece em outras festas de mouros e cristãos. Cada formação, à vez, começando sempre os Mourisqueiros, faz uma última dança de agradecimento ao santo junto à porta do adro da igreja paroquial.
21h00: Entrega da festa à nova Comissão de Festas
No final da festa, na escuridade da noite, procede-se à passagem da organização da festa da comissão de festas atual para a do ano seguinte com a entrega simbólica de um ramo de flores.
A cerimónia é acompanhada pela Banda Musical de S. Martinho que toca algumas músicas tradicionais. De seguida a Banda rodeia a Igreja Matriz e sai do adro, percorrendo as ruas Padre Agostinho de Freitas e São João de Sobrado até chegar ao início da Rua de Campelo, em frente ao Café Santo André. Neste trajeto todos, incluindo Bugios e Mourisqueiros, já depois do fim da recreação da lenda, terminam a festa dançando ao som daquilo que mais os une: o hino de São João.
Apesar de não integrar oficialmente a festa, é o momento de celebração da paixão por toda a comunidade. No fim é servido vinho e doces brancos.